PIB deve ter crescido 4,5% em 2021 com ritmo em alta no fim do ano

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A economia brasileira deve ter fechado 2021 com um ritmo mais acelerado em novembro e dezembro, compensando o fraco desempenho de outubro. No ano, o crescimento do PIB deve ter chegado a 4,5%, após o tombo de 3,9% com a pandemia em 2020. Para este ano, as expectativas ainda podem ser afetadas, a depender da evolução e dos reflexos da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Pesquisa do Valor com 67 instituições financeiras e consultorias mostra uma projeção mediana de alta de 0,2% para o PIB do quarto trimestre de 2021, em relação aos três meses imediatamente anteriores, feito o ajuste sazonal. No segundo e no terceiro trimestre, houve quedas, na margem, de 0,4% e 0,1%, respectivamente.

Do lado da oferta, a agropecuária deve crescer 6,1% de outubro a dezembro de 2021, mas o setor vem de quedas expressivas nos trimestres anteriores, explicadas por eventos climáticos adversos e quebras de safras, o que ainda fará o PIB agro cair 0,2% no ano, estimam os analistas.

A indústria até conseguiu crescer em dezembro, mas não deve ser suficiente para impedir uma retração no quarto trimestre de 2021, de 1,5%, ante o terceiro, segundo as estimativas. A indústria sofreu ao longo do ano com os gargalos nas cadeias produtivas globais. Ainda assim, após a contração de 3,4% em 2020, a expectativa é que avance 4,4% em 2021.

Um crescimento mais sustentado, porém, deve vir mesmo dos serviços. Embora o setor possa desacelerar da alta de 1,1% no terceiro trimestre para 0,2% no quarto, de acordo com as projeções, ele encerraria 2021 com alta de 4,6%, após perda de 4,3% no ano anterior. “Boa parte desse resultado do quarto trimestre é sustentado por serviços, que devem ainda seguir passo de recuperação com a vacinação. Mas, para o restante, é um quadro anêmico”, diz Marcos Ross, economista-chefe do Haitong. Ele vê alta de 0,3% para o PIB no quarto trimestre de 2021, na margem.

Do lado da demanda, nos últimos três meses de 2021, apenas o consumo do governo (alta de 0,4% ante o terceiro trimestre) e importações (1,8%) não devem registrar contração. A Formação Bruta de Capital Fixo (medida para os investimentos) cairia 0,1%, na margem, o consumo das famílias perderia 0,1% e as exportações recuariam 2,7%. Em 2021 como um todo, no entanto, os investimentos podem avançar 16,6%, após caírem 0,5% em 2020, enquanto o consumo das famílias subiria 3,4%, recuperando apenas parcialmente a perda de 5,4% do ano anterior.

O último trimestre de 2021 deve confirmar a trajetória de estagnação indicada de abril a setembro, diz Luis Otavio Leal, economista-chefe do Banco Alfa, que prevê alta para o período em linha com a mediana de 0,2%. Ele trabalha com uma composição diferente, no entanto, de crescimento na agropecuária, mas também nos investimentos. Ambos avançariam por causa da baixa base de comparação. Como o consenso, ele vê queda na indústria, mas também nos serviços, que poderiam ser afetados pela esperada contração no consumo das famílias.

Assim como Leal, Flávio Serrano, economista-chefe da Greenbay Investimentos, diz que os indicadores de atividade do quarto trimestre reforçam a ideia de esgotamento dos estímulos fiscais que ajudaram a evitar perdas ainda maiores em 2020. Ele enxerga, no entanto, possibilidade de retração, de 0,1%, do PIB entre outubro e dezembro de 2021, na comparação com os três meses anteriores.

A depender do PIB desse quarto trimestre, a mudança na previsão de crescimento do ano passado como um todo seria apenas “um ajuste fino”, diz Ross, do Haitong. “É determinar se vai crescer 4,5% ou 4,6%. Chegou a parecer pior, que ficaria abaixo de 4,5%, mas os dados de novembro e dezembro mostram que, talvez, não. Mas, se pensar em uma discussão mais ampla, não faz muita diferença.”

O fim de 2021 deve deixar uma “herança estatística” de 0,1% para 2022, número que já chegou a ser negativo nas contas do economista. “É um detalhe para melhor, mas mostra que tem um problema de crescimento ainda a ser resolvido”, diz Ross. Apesar de os números de dezembro terem “um jeitão meio positivo”, essa não é uma percepção que deve se sustentar para 2022, segundo ele.

“Janeiro, de fato, deve ter perdido um pouco de fôlego por causa da ômicron. Não foi um tombo grande, o que poderia ser esperado até pela dimensão da onda em termos de casos. Felizmente, ela se mostrou menos virulenta do ponto de vista de internações e óbitos, as pessoas tiveram um susto inicial, mas não deve comprometer a atividade”, diz José Pena, economista-chefe da Porto Seguro Investimentos. Ele trabalha com PIB perto da estabilidade no período e se diz cauteloso com o restante do ano.

Numa análise preliminar, economistas e bancos consultados pelo Valor avaliam que, a economia brasileira neste ano está pouco exposta à guerra entre Rússia e Ucrânia e deve ser pouco impactada ao menos neste primeiro momento. Mas o cenário se confirmará somente se o conflito não se estender para outros países da Europa.

A pesquisa do Valor aponta um crescimento mediano de 0,3% para o PIB de 2022. Ross projeta alta de apenas 0,1% de janeiro a março, em relação ao quarto trimestre de 2021, e vê contração de 0,4% da atividade brasileira neste ano. Os efeitos do aperto monetário ao longo de 2021 se mostrarão mais evidentes na atividade em 2022 e devem ser potencializados pelo alto endividamento e pela menor oferta de crédito, aponta Serrano, da Greenbay, que também vê queda, de 0,5%, do PIB neste ano.

Ao mesmo tempo, diz ele, a redução da taxa de desemprego não será suficiente para produzir crescimento mais forte, e a inflação ainda elevada deve corroer o poder de compra. “Só não teremos resultado pior porque esperamos recuperação muito forte da agropecuária no primeiro trimestre.”

Leal observa que essa dinâmica de três meses iniciais mais fortes, quase que definindo o crescimento do PIB no ano, deve acontecer em 2022 assim como em 2021. A diferença, diz, é que, no início do ano passado, foi o consumo das famílias que impulsionou a economia. O economista projeta 0,3% de alta do PIB no primeiro trimestre deste ano, na margem, com ajuste sazonal. Igual variação é estimada para a atividade em 2022.

Leal lembra que as projeções para este ano ainda não incluem a guerra entre Rússia e Ucrânia. Ainda é incerto, diz, por quanto tempo cotações de commodities podem ficar mais elevadas, afetando inflação global e doméstica. O quadro, acompanhado de câmbio desvalorizado em razão da aversão a riscos, pode levar a uma taxa de juros maior do que a esperada para o ano, nota, o que restringiria ainda mais a atividade.

Fonte: Aço Brasil